terça-feira, 18 de outubro de 2016

Um tédio de nojo


O livro do desassossego - Fernando Pessoa



(...) 

Passando às vezes na rua, ouço trechos de conversas íntimas, 
e quase todas são da outra mulher, 
do outro homem,
do rapaz da terceira ou da amante daquele, 

(...) 


Levo comigo, só de ouvir estas sombras de discurso humano que é afinal o tudo em que se ocupam a maioria das vidas conscientes, 
um tédio de nojo, 
uma angústia de exílio entre aranhas e a consciência súbita do meu amarfanhamento entre gente real; 
a condenação de ser vizinho igual, 
perante o senhorio e o sítio, 
dos outros inquilinos do aglomerado, 
espreitando com nojo, 
por entre as grades traseiras do armazém da loja, 
o lixo alheio que se entulha à chuva no saguão que é a minha vida. 

(...) 





quinta-feira, 29 de setembro de 2016


Ain't Got No, I Got Life - Nina Simone




(..) I got my hair, got my head
Got my brains, got my ears
Got my eyes, got my nose
Got my mouth
I got my
I got myself (...)

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Da felicidade...


Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!

(Mario Quintana)


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Uma falsa primavera


" Quando a Primavera chegava, mesmo que se tratasse de uma falsa primavera, nossos problemas desapareciam, exceto o de saber onde se poderia ser mais feliz. 

A única coisa capaz de nos estragar um dia eram pessoas, mas se pudesse evitar encontros, os dias não tinham limites. 


As pessoas eram sempre limitadoras da felicidade, exceto aquelas poucas que são tão belas quanto a própria primavera."


Paris é uma festa - Ernest Hemingway






terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Confisão...


"Quando nos autocensuramos, temos a sensação de que mais ninguém tem o direito de nos censurar. 

É a confissão, e não o sacerdote, que nos dá a absolvição".

(Oscar Wilde em O retrato de Dorian Gray)

sexta-feira, 8 de março de 2013

Sobre poesia...

Lendo o trecho do livro Confesso que vivi de Pablo Neruda deparei-me com uma bela descrição sobre a poesia, que é pura poesia.


"A poesia é sempre um ato de paz. O poeta nasce da paz como o pão nasce da farinha.


Os incendiários, os guerreiros, os lobos buscam o poeta para queimá-lo, para matá-lo, para mordê-lo. Um espadachim deixou Pushkin ferido de morte entre as árvores de um parque sombrio. Os cavalos de pólvora galoparam enlouquecidos sobre o corpo sem vida de Petöfi. Lutando contra a guerra morreu Byron na Grécia. Os fascistas espanhóis iniciaram a guerra na Espanha assassinando seu melhor poeta. (...)

Mas a poesia não foi morta, tem as sete vidas do gato. É molestada, é arrastada pela rua, cuspida e escarnecida, confinada para que se afogue, é desterrada, encarcerada, dão-lhe quatro tiros e sai de todos estes episódios com a cara lavada e um sorriso puro."






domingo, 28 de outubro de 2012

In-verso


Aquele que conhece o outro é sábio.

Aquele que conhece a si mesmo é iluminado.

Aquele que vence o outro é forte.
Aquele que vence a si mesmo é poderoso.

Aquele que conhece a alegria é rico.
Aquele que conserva o seu caminho tem vontade.

Seja humilde, e permanecerás íntegro.
Curva-te, e permanecerás ereto.

Esvazia-te, e permanecerás repleto.
Gasta-te, e permanecerás novo.

O sábio não se exibe, e por isso brilha.
Ele não se faz notar, e por isso é notado.

Ele não se elogia, e por isso tem mérito.
E, porque não está competindo, ninguém no mundo pode competir com ele.

(Tao Te King)